No mar, tanta tormenta e tanto dano
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno,
Contra um bicho da terra tão pequeno ?
Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas)
Tantas vezes a morte apercebida!
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno,
Contra um bicho da terra tão pequeno ?
Luís Vaz de Camões (Os Lusíadas)
Luís Vaz de Camões é considerado o maior e o mais admirado poeta português.
Contudo, por incompreensão dos seus contemporâneos, morreu na miséria, sendo o seu funeral realizado a expensas de um nobre, D. Gonçalves Coutinho, o qual mandou colocar na sepultura o seguinte epitáfio: - “Aqui jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu”.
Os últimos momentos da vida de Camões são também descritos com indignação por um frade carmelita, Frei José Índio, descrevendo-os da seguinte forma: - “que cousa mais lastimosa que ver um tão grande engenho mal logrado. Eu vi-o morrer num hospital de Lisboa sem ter um lençol com que cobrir-se”.
Apesar de alguns historiadores o referirem como oriundo da nobreza e dotado de estudos superiores, morreu pobre, sabendo-se que, em termos de rendimentos, não auferia mais do que a diminuta tença anual que lhe havia sido atribuída pelo rei D. Sebastião em 1572.
Talvez por isso, Columbano Bordalo Pinheiro tenha ficado impressionado pela extrema miséria em que o poeta vive os últimos momentos, reproduzindo esse episódio num quadro datado de 1876 e que pode ser visto Museu Nacional de Arte Contemporânea (
Os derradeiros momentos do poeta integram-se na temática camoniana de Columbano, que cativou este pintor e que está presente em diversas outras obras.
Esta obra é talvez uma das primeiras desse imaginário, num trabalho escolar que demonstra a influência de outros mestres.
É uma obra académica, ainda incipiente, hesitante nos parâmetros escolares a que Columbano se sentia obrigado, sendo curioso notar que foi realizada quando o pintor tinha apenas dezasseis anos de idade.
Representa um casebre rústico e desarrumado onde todos os objectos marcam uma disposição cenográfica. A manta que cobre o poeta liga as linhas estruturais do quadro entre o leito de morte, a figura que assiste Camões, em pose vincadamente maneirista, e os livros abandonados.
Apesar dos seus dezasseis anos, Columbano demonstra já a preocupação pelo rigor do desenho, um tratamento em mancha e gradações tonais da parede, com uma pincelada solta nos reflexos brancos da camisa, na sobreposição de pequenos toques.
É uma imagem diferente do “Trinca-Fortes que viveu aventuras e desventuras pelo Norte de África, Moçambique, Goa e Macau e, mais tarde, regressa a Lisboa para publicar a obra que o iria imortalizar para sempre: - “Os Lusíadas”.
Como o próprio Camões profetizou antes de morrer “ … e assim acabarei a vida e verão todos que fui abençoado à minha pátria que não somente contentei de morrer nela mas de morrer com ela”.
Em 1580, por via de uma atitude insensata de um jovem rei, Filipe II de Espanha reclamou o país que conquistou e que pagou.
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