terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O LONGO 2008 (EXCERTO)

Esta semana resolvemos fazer um intervalo nos habituais comentários de arte.
Em vez destes, partilhamos convosco uma reflexão muito interessante do Professor Boaventura Sousa Santos sobre a crise económica (e não só).
Esperamos sempre que o ano de 2009 seja melhor que o ano anterior ou que, pelo menos, estejamos mais atentos e vigilantes ao que aconteceu de errado neste ano que agora termina.
BOM ANO A TODOS

Tudo leva a crer que o ano de 2008 não termine em 31 de Dezembro. O tempo inerte do calendário cederá o passo ao tempo incerto das transformações sociais. Muito do que se desencadeou em 2008 vai continuar, sem qualquer solução de continuidade, em 2009 e mais além. Analisemos algumas das principais continuidades.

Crise financeira ou o «baile de gala» da finança? Os últimos quatro meses foram muito reveladores dos dois mundos em que o mundo está dividido, o mundo dos ricos e o mundo dos pobres, separados mas unidos para que o mundo dos pobres continue a financiar o mundo dos ricos. Dois exemplos. Fala-se de crise hoje porque atingiu o centro do sistema capitalista. Há 30 anos que os países do chamado Terceiro Mundo têm estado em crise financeira, solicitando, em vão, para a resolver, medidas muito semelhantes às que agora são generosamente adoptadas nos EUA e na UE.
Por outro lado, os 700 biliões de dólares de bail-out estão a ser entregues aos bancos sem qualquer restrição e não chegam às famílias que não podem pagar a hipoteca da casa ou o cartão de crédito, que perdem o emprego e estão a congestionar os bancos alimentares e a «sopa dos pobres». No país mais rico do mundo, um dos grandes bancos resgatado, o Glodman Sachs, acaba de declarar no seu relatório que neste ano fiscal pagou apenas 1% de impostos. Entretanto, foi apoiado com dinheiro dos cidadãos que pagam entre 30 e 40% de impostos. À luz disto, os cidadãos de todo o mundo devem saber que a crise financeira não está a ser resolvida para seu benefício e que isso se tornará patente em 2009. Na Europa, os jovens gregos foram os primeiros a dar-se conta. É de prever que não sejam um caso isolado.


Opinião (Visão de 30/12/2008)
Boaventura Sousa Santos

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