“Prefiro um borrão de Ticiano
a um quadro de outros”
Fidalgo Espanhol
a um quadro de outros”
Fidalgo Espanhol
Carlos de Habsburgo nasceu em 24 de Fevereiro de 1500 e faleceu em Cáceres em 21 de Setembro de 1558.
Filho de Joana “A Louca” e de Filipe “O Belo”, era também neto paterno de Maximiliano I de Habsburgo e de Maria da Borgonha e neto materno dos Reis Católicos Fernando II de Aragão e Isabel de Castela.
Conseguiu assim unificar na sua pessoa o conjunto dos territórios de Castela, Aragão, os Países Baixos, o Franco Condado, a Áustria e o Tirol.
Teve como irmãs Catarina de Áustria (da Casa Habsburgo), casada com o rei D. João III de Portugal, e Leonor de Áustria, a qual foi mulher do rei D. Manuel I.
Casou com a infanta Isabel de Portugal, filha de D. Manuel I, de quem teve descendência ligada ao nosso país.
O seu primogénito, Filipe II de Espanha (Filipe I de Portugal), que reclamou o trono português em consequência da crise de regência provocada pela morte de D. Sebastião, e Joana de Habsburgo, que veio a casar com o infante João de Portugal (quarto filho do rei D. João III e Catarina de Áustria) e que foram os progenitores do rei D. Sebastião.
Com a morte dos avós paternos e maternos, assumiu o governo de um vasto território e de um império em que se dizia que o sol jamais se punha mas tinha respeitar os povos de cada um deles ou, como afirmava um historiador espanhol, “en el sentido de que estaba hecha de un mosaico de diferentes territórios cada uno com su historia, su lengua, sus leyes y sus tradiciones”.
Carlos era rei de todos esses súbditos e, para manter esse vasto território, sabia que tinha que respeitar os direitos e os privilégios de cada território.
Para isso, centralizou a administração e criou um corpo de leis que incentivavam a vida social e industrial, com vista a evitar as tendências nacionalistas, promoveu a agricultura, estabeleceu um sistema policial e uma legislação comercial.
Esta política teve mais sucesso nos Países Baixos do que na Espanha, onde o progresso industrial era mais lento e não existiam tantas reacções de uma nobreza que não apoiava a política externa de Carlos V.
Foi eleito Imperador do Sacro Império Romano Germânico, como Carlos V, em 1519, com a missão de guardar a paz e a justiça na cristandade e defendê-la das pressões do Império Otomano.
Viajou constantemente durante o seu reinado, sem passar muito tempo em Espanha, ficando a decisão dos assuntos deste reino a cargo da esposa Isabel de Portugal. Era qualificado como um homem inteligente e enérgico, com grande vontade de governar, percebendo que existam grandes obstáculos ao controlo do enorme território do império que agora também se expandia para a América Central e do Sul, através das expedições de Hernando Cortez e de Francisco Pizarro.
Carlos V encomendou este retrato a Ticiano, pintor veneziano, para comemorar uma das suas vitórias mais importantes contra a Liga Protestante, na Batalha de Mulberga, em 1547.
O imperador usa ao pescoço o símbolo da Ordem do Tosão de Ouro, uma das maiores ordens da cristandade composta por 24 cavaleiros que juraram aliar-se ao soberano para defender a fé católica, servindo também estes cavaleiros como assembleia consultiva do imperador.
O retrato equestre era novidade na pintura da época, demonstrando o espírito inventivo de Ticiano.
Carlos V cavalga sozinho de encontro ao inimigo, olhando em frente, retratado com armadura cerimonial e montando o cavalo que utilizou na batalha.
Embora seja certo que Carlos V liderou o seu exército nesta batalha, é difícil que tenha adoptado uma postura tão altiva já que, na altura, contava 47 anos de idade e sofria de gota e de asma.
Apesar de tudo, Carlos V foi um estratega militar e um rei-imperador soldado, tal como haviam sido os seus avós maternos na conquista de Granada, sendo um dos últimos em Espanha, já que o seu filho Filipe II fez uma fugaz aparição na batalha de São Quintono e apenas Filipe V e Carlos III, reis da Casa de Bourbon, voltariam a comandar tropas no campo de batalha.
Sob o comando de Carlos V, o exército imperial aperfeiçoou o uso das armas de fogo portáteis e a estruturação dos famosos “Tercios” ou “Terzos”, unidades móveis que actuavam com disciplina colectiva mas davam campo livre a iniciativas individuais e que viriam a ser os percursores das actuais unidades especiais.
Esta pintura equestre da autoria de Ticiano, exibida no Museu do Prado, na cidade de Madrid (www.museodelprado.es), é considerada uma obra prima da arte de pintar e o próprio Carlos V nomeou o pintor Conde Palatino e Cavaleiro do Galão Dourado, concedendo aos filhos destes o estatuto de nobres do império, circunstância considerada uma honra para os pintores daquela época.
Como chefe da dinastia dos Habsburgos, que governou parte da Europa durante muitos séculos, Carlos V dominou mais território europeu e americano do que qualquer outro governante desde o tempo dos imperadores romanos até Napoleão.
A relação entre o imperador e o pintor Ticiano era particularmente íntima já que a etiqueta social teria imposto algum distanciamento entre o monarca e o pintor mas o respeito mútuo e a admiração que existe entre os dois homens transparece nos retratos.
Diz-se que, em certa ocasião, o imperador apanhou do chão um pincel que Ticiano deixara cair, acto de intimidade sem precedentes num monarca.
Abdicou em 1558, deixando ao seu filho Filipe II o reino de Espanha, as suas colónias, terras na Península Itálica e os Países Baixos, ficando a cargo do irmão Fernando os reinos da Alemanha e da Áustria.
Retirou-se para um mosteiro em Espanha, próximo da cidade de Cáceres, levando consigo os seus quadros de Ticiano, afirmando que atribuía tanto valor a estes como à aquisição de uma nova província.
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