quarta-feira, 4 de março de 2009

A SÚPLICA DE INÊS DE CASTRO (VIEIRA PORTUENSE)


Inês de Castro era filha de Pedro Fernandes de Castro, mordomo-mor do rei Afonso XI de Castela e de uma dama portuguesa, Aldonça Lourenço de Valadares.
O pai era um dos fidalgos mais poderosos de Castela.

Inês de Castro era uma das aias de Constança Manuel, a qual viria a casar com o infante D. Pedro de Portugal (futuro D. Pedro I).
Contudo, foi por Inês que Pedro se apaixonou.

Essa paixão não era bem vista pelos fidalgos da corte portuguesa nem pelo pai, o rei D. Afonso IV, que não aprovava essa relação, não apenas por motivos diplomáticos junto dos pais da mulher do infante D. Pedro mas também pela proximidade que este manifestava junto dos irmãos de Inês de Castro.

Assim, o rei Afonso IV mandou exilar Inês de Castro no castelo de Albuquerque, na fronteira de Castela mas essa distância não diminuiu a paixão entre os amantes.
Ainda por cima, em Outubro de 1345, Constança Manuel morreu ao dar à luz o futuro rei Fernando I de Portugal e, já viúvo, D. Pedro mandou Inês regressar do exílio, indo viver juntos, o que causou grande desgosto e desavença com o rei.

Fruto da relação com D. Pedro, Inês de Castro teve quatro filhos, o que veio ainda agudizar a situação junto do rei, o qual se sentira em risco de ser preterido na sucessão ao trono devido aos filhos ilegítimos do seu pai D. Dinis e procurava evitar essa situação para o neto Fernando.

Após alguns anos no norte de Portugal, Pedro e Inês instalaram-se no Paço de Santa Clara, em Coimbra, mandado construir pela avó do infante, a Rainha Santa Isabel.
Corriam boatos de que o infante tinha casado secretamente com Inês de Castro e, na família real, um incidente deste tipo assumiria graves implicações políticas.

Foi então que Afonso IV decidiu que a melhor solução seria a execução de Inês de Castro e, em 7 de Janeiro de 1355, aproveitando a ausência do infante numa expedição de caça, enviou Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco para assassinarem Inês em Coimbra.

Segundo a lenda, as lágrimas derramadas no rio Mondego pela morte de Inês teriam criado a Fonte dos Amores na Quinta das Lágrimas e algumas algas avermelhadas que ali crescem seriam o seu sangue derramado.

A morte de Inês provou a revolta do infante contra o seu pai, o rei Afonso IV mas apenas depois da morte deste é que o já rei D. Pedro I perseguiu e executou dois dos assassinos de Inês, tendo um deles (Diogo Lopes Pacheco), conseguido fugir para França.

D. Pedro fez em Junho de 1360 a declaração de Cantanhede, legitimando os filhos da sua relação com Inês de Castro, ao afirmar que tinha casado secretamente com esta em 1354, “em dia que não se lembrava”, sendo as palavras do rei e do capelão as únicas prova desse casamento.

D. Pedro mandou ainda construir os túmulos que se encontram no Mosteiro de Alcobaça, onde se juntaria à sua amada em 1367, jazendo os restos mortais juntos, frente a frente, para que, segundo a lenda “pudessem olhar-se nos olhos quando despertarem no Dia do Juízo Final”.

O quadro “A Súplica de Inês de Castro”, da autoria de Francisco Vieira de Matos (1765-1805), um dos introdutores do neoclassicismo na pintura portuguesa e que adoptou o nome artístico de Vieira Portuense, pode ser agora visto no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa (
www.mnarteantiga-ipmuseus.pt).

Representa Inês de Castro, acompanhada por dois dos seus filhos, suplicando ao rei Afonso IV que a poupasse, numa reprodução do episódio do Canto III d’ “Os Lusíadas”.
Ao fundo, um dos carrascos espreita a cena, parecendo esperar a ordem para intervir.

Este quadro havia sido executado para o Palácio da Ajuda, em Lisboa, nos finais do século XVIII (1799) ou princípios do século XIX (1801) mas foi levado em 1807 para o Brasil, aquando do exílio da família real portuguesa.

Permaneceu no Palácio de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, mas, em 2008, surgiu a notícia de que iria ser vendido num leilão em Paris, tendo sido adquirido pelo Estado Português, em parceria com um mecenas que não quis ser identificado, integrando agora o acervo do Museu Nacional de Arte Antiga.

O quadro estará em exposição especial neste museu até ao final do mês de Março.

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