quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

TRIPLO RETRATO DO CARDEAL RICHELIEU (PHILIPPE DE CHAMPAIGNE)


“Fazer uma lei e não velar pela sua execução é o mesmo que autorizar aquilo que queremos proibir”
Cardeal Richelieu




Armand Jean Duplessis, Cardeal e Duque de Richelieu, nasceu em Paris em 9 de Setembro de 1585 e faleceu nesta cidade em 4 de Dezembro de 1642.

Foi primeiro-ministro do rei Luís XIII de França entre 1628 a 1642 e o principal arquitecto do absolutismo em França e da liderança francesa na Europa durante os séculos XVII e XVIII.

Consagrado Bispo de Luçon em 1607, foi orador do clero nos Estados Gerais de 1614, fazendo parte do conselho da rainha regente Maria de Médicis em 1616 e, mais tarde, nomeado cardeal em 1622.

Chefiando o Conselho de Estado desde 1624, combateu os protestantes franceses e os seus aliados ingleses e, com vista a assegurar a tranquilidade das fronteiras externas, combateu os Habsburgos católicos que governavam a Espanha e a Flandres, nas fronteira sul e norte, e os Estados austríacos na fronteira leste.

Na verdade, e de uma forma absolutamente inesperada, aliou-se aos protestantes alemães que combatiam o Imperador austríaco.

O Cardeal Richelieu esteve sempre em permanente conflito com a Rainha Mãe Maria de Médicis e do irmão do rei mas Luís XIII depositava uma enorme confiança no seu primeiro ministro, chegando mesmo a fazer com que este determinasse o exílio da mãe nos Países Baixos e a saída do irmão do rei da corte.

Apesar de católico e fervoroso inimigo dos protestantes franceses, Richelieu apoiou os protestantes da Alemanha na Guerra dos Trinta Anos a qual seria apenas resolvida pelo Tratado de Westfália.

No plano interno, destruiu o poder político e a capacidade militar dos huguenotes, dando continuidade à política absolutista iniciada por Henrique IV, proibiu os duelos, realizou reformas nas finanças, nas finanças e na legislação, sendo o criador do absolutismo real, pondo fim aos privilégios provinciais com a centralização administrativa e a instituição de intendentes, fundando ainda a Academia Francesa.

Teve uma posição duvidosa no plano interno e externo uma vez que, por um lado, combatia os protestantes em França mas, por outro lado, apoiava-os na Holanda, Dinamarca e Suécia contra os monarcas Habsburgos.
Apesar destas aparentes contradições, o partido católico francês, apoiado pela Rainha Mãe Maria de Médicis, nunca conseguiu a sua demissão.

Richelieu teve também forte influência na Guerra da Restauração que se iniciou em 1640 uma vez que apoiou a revolta portuguesa contra os espanhóis.

O Cardeal Richelieu é normalmente conhecido pela sua presença na obra de Alexandre Dumas, Os Três Mosqueteiros, surgindo como a personagem sinistra que domina os destinos do rei Luís XIII, apenas contrariado pela Rainha Ana de Áustria.
Na luta contra os huguenotes e ingleses, conta ainda com a ajuda de Milady de Winter, de quem um dos mosqueteiros (Athos) se apaixona.
Outras personagens desta obra são ainda D’Artagnan, Aramis e Porthos, os quais evitam as tentativas do Cardeal para se apoderar do poder.
Como curiosidade, trata-se de uma história ficcionada uma vez que o Cardeal Richelieu e Charles de Batz-Castelmore, Conde D’Artagnan, viveram em épocas diferentes, sendo que este último foi um militar ao serviço do rei Luís XIV e morreu em 1673 no cerco a Maastricht (Guerra Franco-Holandesa), muito tempo depois da morte de Richelieu.

Na pintura que escolhemos, o cardeal fez-se retratar por Philippe de Champaigne em 1642 com vista a que o trabalho fosse posteriormente enviado para Roma, onde o escultor Francisco Mochi iria aproveitá-la como modelo para a execução de um busto daquele.

A inscrição situada sobre a cabeça central indica que seria essa a representação mais verosímil, ao passo que a inscrição colocada sobre a da direita a apresenta como o melhor perfil, o que faz supor que a obra agora exposta na National Gallery, em Londres (
http://www.nationalgallery.org.uk) constituiu inicialmente um instrumento para uma obra mais elaborada.

Apesar disso, Champaigne não utiliza os cânones da pintura retratista de forma meramente instrumental, aproveitando a oportunidade para realizar uma introspecção analítica do rosto do cardeal, revelando o seu interesse pela mímica facial e pela expressão de sentimentos.

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