quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O 3 DE MAIO DE 1808 (FRANCISCO GOYA)



“O sono da razão produz monstros terríveis”
Francisco José de Goya y Lucientes



Manuel Godoy, o famoso ministro do rei Carlos IV de Espanha, fez um acordo com Napoleão Bonaparte no sentido de permitir a passagem de tropas francesas pelo território espanhol para conquistar Portugal.
Contudo, os franceses ocuparam também a Espanha, o que provocou a ira do povo espanhol contra o rei e o seu ministro e conselheiro, obrigando aquele a abdicar a favor do filho Fernando VII.

A revolta do povo de Madrid ocorreu em 2 de Maio de 1808, quando tenta evitar a saída do infante D. Francisco de Paula de Bourbon para França. Foi uma revolta duramente reprimida, como reconhece o comandante das forças francesas, o marechal Joachim Murat, o qual escreveu no seu diário: “O povo de Madrid deixou-se arrastar à revolta e ao assassinato … sangue francês foi derramado. Sangue que demanda vingança”.
Assim, todos os madrilenos que foram encontrados com armas foram executados, num total de cerca de quatrocentos.
Cerca de quarenta e quatro dos revolucionários foram juntos e fuzilados na noite de 2 para 3 de Maio, na colina do Príncipe Pio, em Madrid, sendo esse o episódio relatado por Francisco José de Goya y Lucientes no seu quadro.

Depois das sublevações de Maio, Napoleão Bonaparte, cada vez mais impaciente com os acontecimentos de Espanha, colocou no trono o seu irmão, o qual reinou como José I entre 1808 a 1813.

Pouco tempo após a derrota de Napoleão, o Conselho da Regência convidou Francisco de Goya para pintar “as acções ou episódios mais nobres da gloriosa insurreição dos espanhóis contra o tirano da Europa” e com vista a celebrar o regresso do rei Fernando VII a Espanha.

Goya escolheu o tema da revolta de Madrid, ocorrida em 2 de Maio de 1808 e sufocada logo no dia seguinte, onde foram fuzilados todos os insurrectos e todos os suspeitos da participação na revolta.
É justamente o culminar desse drama que o pintor escolheu para representar nesta obra a qual dispõe de duas situações distintas e que pode ser apreciado no Museu do Prado, em Madrid (
http://www.museodelprado.es/).

Entre as vítimas do fuzilamento, formam-se três grupos: - os que estão à espera de ser fuzilados e observam com horror o seu futuro, os que estão já mortos e estendidos no chão e os que estão prestes a ser fuzilados, da direita para a esquerda, introduzindo um elemento de decurso do tempo na composição.

Neste último grupo, destaca-se a figura central de um homem, fortemente iluminada e envergando uma camisa branca, de braços abertos, como que esperando a saraivada de balas e onde é visível na mão esquerda a marca de um estigma, sendo intencional a associação ao martírio de Cristo na cruz.
Merece também destaque a figura de um frade, ajoelhado na primeira fileira das vítimas, procurando representar o papel que a Igreja Católica teve na revolta, promovendo a resistência a partir dos altares, numa oposição a Napoleão face à decisão deste de ordenar o encerramento de dois terços dos conventos e de suprimir a Inquisição.

O artista não representa o rosto dos soldados no pelotão de fuzilamento, apresentando-os uniformizados no seu alinhamento militar e desprovidos de identidade individual, como que traduzindo apenas um braço desumano que age segundo uma vontade superior.
Ao contrário destes, os homens que esperam a execução aparecem altamente individualizados. Prontos para a morte, assumem diferentes atitudes e revelam diferentes reacções.

O quadro do “3 de Maio de 1808”, do pintor espanhol Francisco de Goya, é uma das obras mais expressivas contra os horrores da guerra e tem sido fonte de diversos outros trabalhos.


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