terça-feira, 23 de setembro de 2008

O ACORDO NUPCIAL (WILLIAM HOGARTH)


“A minha pintura é o meu palco e os meus actores são os homens e as mulheres que, através de certos actos e expressões, representam uma pantomina”
William Hogarth


A ética conjugal foi o tema de muitos debates realizados na Grã-Bretanha durante o século XVIII (o chamado período jorgiano[1]).
Com efeito, muitos dos casamentos eram realizados por conveniência e a infelicidade que provocavam eram objecto de críticas sociais, surgindo um conjunto significativo de artistas e letrados a afirmar que o amor entre os cônjuges deveria ser a base principal do casamento.

Este quadro é o primeiro de um conjunto de seis, executados por William Hogarth entre 1743 a 1745 e representando, de forma irónica e aparentemente moralizadora, essa prática muito comum na Grã-Bretanha do século XVIII dos “os casamentos por conveniência” e, em particular, junto das classes mais elevadas.

Representa uma história infeliz de uma união engendrada pelos pais por mera contrapartida social e material. Por um lado, o pai do noivo, um ambicioso aristocrático arruinado por um estilo de vida demasiado faustoso, “vende” o filho a troco de um dote conspícuo desembolsado pelo pai da noiva, por sua vez, um mercador enriquecido e desejoso de afirmar o seu prestígio social, unindo-se à aristocracia.

São visíveis a oferta do dinheiro, em cima da mesa onde o tabelião efectua a troca dos documentos, enquanto que o pai do noivo aponta para a sua árvore genealógica, com um cavaleiro na base, como sendo aquilo de que dispõe com maior valor para oferecer em troca da quantia que lhe é entregue.

O negócio conclui-se com satisfação para ambas as partes, mas não para os filhos, representados num outro plano e numa atitude de distanciamento, reduzidos aqui ao mero estatuto de figurantes.

Sabe-se pelo conjunto das restantes obras que esta união conjugal irá ter um desfecho trágico: - após toda uma série de traições e de vinganças, o marido será morto num duelo com o amante da mulher a qual, de regresso a casa dos pais, se suicida pouco depois.

Todo o conjunto de seis quadros (assim como outras obras do pintor e gravador inglês William Hogarth) encontra-se acessível ao público na National Gallery, em Londres (
http://www.nationalgallery.org.uk/) e, pelo conteúdo temporal de cada um dos trabalhos, é considerado por muitos como um dos percursores da banda desenhada.

Nesta obra, como noutras introduzindo o tema moral da época, o pintor ilustra fraquezas humanas mas nunca moraliza, deixando que o espectador faça o seu juízo pessoal.

Como curiosidade, importa ainda referir que o seu autor, William Hogarth, considerado o pai da pintura inglesa e, procurando evitar cópias indevidas do seu trabalho enquanto pintor e gravador, deu origem a um dos primeiros conjuntos de normas sobre direitos de autor.

[1] Esta época recebeu esta denominação por via dos reis de Inglaterra que governaram este país (e as respectivas possessões) durante todo o século XVIII (Jorge I a Jorge IV), ficando especialmente caracterizada por um estilo arquitectónico próprio que é visível em muitas cidades como Londres, Dublin, Filadélfia ou Washington ou em muitas outras construções realizadas nessa época.

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