quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A RONDA NOCTURNA (REMBRANDT)


“Deixo em testamento as minhas roupas de linho ou lã e as minhas coisas de pintor”
Rembrandt Harmenszoon van Rijn




Maria de Médici foi a segunda esposa do rei Henrique IV de França, o primeiro monarca da dinastia Bourbon e, após o assassinato deste em 1610, viria a ser regente do reino de França durante a menoridade do seu filho, o futuro rei Luís XIII.
Era de ascendência católica e, por isso, tentou fazer alianças com Espanha, planeando o casamento do filho Luís XIII com Ana da Áustria e da filha Elisabeth com o futuro Filipe IV.

Parte da regência de Maria de Médici foi ainda marcada pela presença do Cardeal Richelieu nas intrigas da corte e por lutas religiosas entre católicos e protestantes.
Com o início do reinado do filho, viveu uma vida de intrigas e conspiração que fizeram com que fosse exilada e, entre 1631 a 1638, viveu entre os Países Baixos, Inglaterra (aqui com o apoio do genro Carlos I), vindo a falecer na cidade de Colónia em 3 de Julho de 1642.
Apesar do exílio, esta rainha, cujo luxo e esplendor é particularmente conhecido a partir dos trabalhos de Rubens, era possuidora de enorme fortuna e conta-se que tenha sido auxiliada na fuga pela nora Ana de Áustria, mulher de Luís XIII, que também sofria com as conspirações de Richelieu.

O quadro de Rembrandt representa a companhia do Capitão Cocq que serviu de guarda de honra na visita da rainha Maria de Médici a Amsterdão e foi uma encomenda da Corporação de Arcabuzeiros desta cidade para decorar a sede da milícia, sendo por isso que o pintor utilizou dimensões monumentais para a tela (359 x 438 cm).

Apesar de ser conhecido como a Ronda Nocturna, a verdade é que um esboço preparatório permite concluir que o título original tenha sido “A companhia militar do Capitão Francis Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburg”.

Contudo, o nome porque ainda hoje é conhecido resulta do estado de deterioração e obscurecido pela oxidação do verniz em que se encontrava a pintura no século XIX, bem como alguma sujidade acumulada, que fizeram que parecesse uma cena nocturna.
Só depois do restauro se concluiu que o título não se ajustava à realidade mas foi aquele pelo qual se tornou conhecida.

No quadro aparece a milícia do Capitão Cocq no momento em que este dá a ordem de marcha ao tenente Willem van Ruytenburg e, detrás de ambos, surgem os dezoito militares da companhia que pagaram uma média de cem florins ao pintor para aparecer no quadro, sabendo-se que, ao todo, Rembrandt recebeu cerca de 1600 florins por todo o trabalho.

As personagens aparecem representados pelo pintor holandês como este as conseguia contemplar em diversas ocasiões no momento em que a companhia se preparava para formar e percorrer a cidade na missão de vigilantes da ordem, aparecendo ainda outras personagens não relacionadas com esta unidade militar.

A verdade é que a visita da rainha francesa a Amsterdão foi celebrada com grande pompa e circunstância e as autoridades pretenderam representar o momento através de diversas formas.

Alguns autores afirmam que a menina que surge na tela é o retrato da esposa do pintor, que havia falecido no mesmo ano em que a obra foi concluída e cuja morte causou enorme depressão a Rembrandt.
Surge como que um espectro, algo deslocada, pois não se encontra na penumbra e as sombras não a tocam.
O traje que enverga, amarelo limão, envergando na cintura um galo branco com pinceladas azuis representa o emblema da companhia que é representado desta maneira original.

O Capitão Francis Bannig Cocq é a figura central que articula os eixos do quadro, indicando com a mão a ordem ao seu tenente e a afasta do espectador, incluindo-o na cena, outorgando-lhe a posição predominante pelo cargo.
Contudo, o Capitão Cocq não terá ficado agradado com o quadro na medida em que pretendia um retrato pessoal e não uma obra de conjunto.

O tenente da companhia é o que recebe a ordem de preparar esta para a formação, sabendo-se que era um homem de baixa estatura pelo que, para não ficar muito diminuído junto do gigantesco capitão, foi representado com o uniforme em tom amarelo que é realçado pelo raio de luz.

O quadro demonstra influências de outros autores, como Caravaggio, por força dos fortes contrastes entre a penumbra e a luz.

O local original para a colocação deste quadro foi o grande salão da Companhia de Arcabuzeiros de Amsterdão mas, no século XIX, este edifício foi destruído e o quadro foi mudado para a sede do município.

Em 1885, finalizaram as obras do edifício onde se encontra, a Galeria Nacional de Arte dos Países Baixos Rijksmuseum, não obstante tenha sido mudada para local de segurança durante a ocupação alemã da 2.ª Guerra Mundial.

Esta obra foi alvo de diversos actos de vandalismo.
No século XVII, foi parcialmente cortada e, muito tempo depois, em 13 de Fevereiro de 1975, um doente mental atacou a obra com uma faca provocando-lhe diversos cortes em ziguezague, obrigando ao restauro.
Porém, em 1985, um visitante do museu pulverizou a pintura com um aerosol de ácido que levava escondido, o que foi evitado pelos guardas que impediram que atingisse a tela, obrigando apenas a alguns restauros no verniz.

Esta obra inspirou outros artistas, particularmente na escultura, no cinema e na música, constituindo um dos trabalhos mais importantes do barroco holandês, sendo a obra de referência do Rijskmuseum (
http://www.rijksmuseum.nl/), em Amsterdão.

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