quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A RENDIÇÃO DE BREDA (DIEGO VELASQUÉZ)


“Velásquez, quando tudo for dito
e feito, é ele o melhor”
Pablo Picasso




No final do século XVI e início do século XVII, os Países Baixos lutavam pela independência da Espanha numa guerra denominada “Guerra dos Oitenta Anos” ou “Guerra de Flandres”, sob a direcção de Guilherme de Orange.
Em 1590, a cidade de Breda havia sido conquistada pelos holandeses e uma trégua de doze anos manteve a paz entre 1609 a 1621.

Após a subida ao trono de Filipe IV de Espanha em 1621, cessaram as tréguas e recomeçou a guerra, sendo intenção do rei espanhol recuperar aquela cidade, a partir da qual poderia manobrar para outras conquistas.
Filipe IV nomeou como chefe supremo da expedição a Breda o seu melhor estratega, o general Ambrósio de Spínola, ao comando de trinta mil homens, entre os quais se incluíam os militares Marquês de Leganés e D. Carlos Coloma.
Por seu turno, a cidade de Breda estava defendida por Justino de Nassau, um nobre da Casa de Orange.

O cerco à cidade foi uma lição de estratégia militar, de tal forma que alguns generais de outras nações compareceram naquela zona para conhecer e observar as tácticas do General Ambrósio de Spínola, em particular as acções secundárias que consistiram em alagar os terrenos circundantes da cidade para impedir o reforço de víveres e munições.
As crónicas afirmam que a defesa de Breda foi um acto de heroísmo mas, finalmente, a guarnição foi obrigada a render-se em 5 de Junho de 1625.
Os espanhóis entenderam essa rendição como honrosa, admirando no inimigo a valentia que demonstraram durante todo o cerco.
Por essa razão, o General Ambrósio de Spínola permitiu que a guarnição abandonasse a cidade formada em ordem militar e com as respectivas bandeiras, dando ordem para que os vencidos foram rigorosamente respeitados e tratados com dignidade.
Contam também as crónicas o momento em que o general espanhol aguardava fora das fortificações o General Justino de Nassau, sendo a entrevista um acto de cortesia, na qual o inimigo foi tratado com cavalheirismo e sem humilhação.

Esse é o momento histórico que Velásquez escolheu pintar o seu quadro “A Rendição de Breda”, exposto agora no Museu do Prado, em Madrid (
http://www.museodelprado.es).
Os dois principais protagonistas estão no centro do quadro e parecem conversar mais como amigos do que inimigos.
Justino de Nassau surge com as chaves da cidade de Breda na mão e mostra intenção de ajoelhar-se perante Ambrósio de Spínola, sendo impedido por este que coloca a mão sobre o ombro do militar holandês para evitar que se humilhe.
Traduz uma ruptura com a tradicional representação do herói militar, o qual costumava ser representado erguido sobre o vencido, expressando uma visão cavalheiresca do acto de rendição.

Este quadro tem ainda a curiosidade de não estar assinado nem datado pois Velásquez reservou um pequeno espaço para o fazer (a zona em branco no canto inferior direito), o que nunca chegou a concretizar.
A Rendição de Breda constitui uma das obras mais imponentes do Museu do Prado, em Madrid, não apenas pelo significado histórico mas também pela excelente representação de um acto de honra entre dois homens que se encontraram na posição de inimigos.

A título de curiosidade, no filme de língua castelhana “O Capitão Alatriste”, onde desempenha o papel principal o conhecido actor Viggo Mortensen, é feita uma referência ao acontecimento relatado neste quadro e à própria execução do mesmo por Velásquez.

Sem comentários: