quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A REVOLTA DO GENERAL GOMES DE SEPÚLVEDA CONTRA OS FRANCESES


Em resposta à ocupação do território continental de Portugal pelas tropas francesas de Napoleão Bonaparte, o Príncipe Regente D. João (futuro rei D. João VI) declarou guerra aos franceses.

O sentimento de revolta da população contra a ocupação francesa foi contido a muito custo pois, inicialmente, o Príncipe Regente tinha dado instruções para que não se oferecesse resistência na medida em que esta “seria mais nociva que proveitosa, servindo só de derramar sangue”.

A população não pegou em armas contra o invasor mas, desde a fronteira até Castelo Branco, as tropas francesas não encontraram víveres, deparando-se com as povoações desertas, de tal forma que, famintos e exaustos, os franceses que chegaram a Lisboa inspiraram mais pena que medo.

Ao invadir Portugal e conquistar Lisboa, o General Junot recebera como ordens de Napoleão, aprisionar o rei português, desagregar o exército português e aliciá-lo a combater no exército imperial e dissolver as milícias portuguesas.

Como se sabe, falhou o primeiro objectivo mas Junot tentou ainda realizar os outros dois.

Assim, na manhã do dia 13 de Dezembro de 1807, substitui a bandeira portuguesa pela bandeira tricolor no Castelo de São Jorge, provocando a indignação popular e a revolta, que veio a espalhar-se por todo o país.

Alguns dias depois, em 11 de Janeiro de 1808, publica o decreto que extingue as milícias e as ordenanças e, no dia 1 de Fevereiro, é destituído o regente português, proclamando-se que Portugal ficava sob a protecção do imperador francês, ordenando ainda o confisco do ouro e prata das igrejas, capelas e confrarias de todo o país para alimentar o esforço de guerra francês.

Com a revolta espanhola em Maio de 1808 e a declaração de guerra pelo Príncipe Regente D. João, estava dada a ordem para a revolta portuguesa e, em 6 de Junho, ocorre uma primeira rebelião no Porto que, rapidamente, se espalha a todo o norte.

A notícia desta revolta chegou até Trás-os-Montes onde, sob o comando do General Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, antigo governador de armas daquela província, são ocupadas as cidades e vilas de Chaves, Miranda do Douro, Torre de Moncorvo, Ruivães e Vila Real.

São organizados regimentos de milicianos e consolidadas as posições em Bragança e noutras localidades, sendo o movimento seguido em Viana do Castelo, Guimarães, Caminha, retornando ao Porto, onde a população se revoltou em 18 de Junho contra os franceses.

Assustado com a dimensão da revolta, o General Junot enviou o General Loison - o famoso “Maneta” - que se dirigisse ao Porto e restabelecesse o domínio francês o qual, ao fim de três dias de combates de guerrilha, foi obrigado a retirar para Lamego, daí para Viseu, Celorico e finalmente para Almeida, onde encontrou refúgio na fortaleza.

Com a insurreição popular a tomar uma dimensão nacional, por todo o lado, constituíram-se juntas governativas, reconhecendo a prioridade e a autoridade nacional da Junta do Porto como Junta Suprema do Reino, deslocando-se uma representação desta a Londres para obter auxílio militar, o que se veio a concretizar mais tarde com o desembarque do Duque de Wellington na Figueira da Foz e o princípio do fim da ocupação francesa.

O quadro pintado por Rui Preto Pacheco em 1956 e que se encontra na sala de audiências do Tribunal Judicial da Comarca de Mogadouro representa a Revolta do General Gomes de Sepúlveda contra os franceses no dia 11 de Junho de 1808 e que, de certa forma, representou o princípio de uma revolta que se estendeu do norte a todo o país.

São poucos os soldados visíveis na figura, em particular a figura do General Gomes de Sepúlveda que parece dar as ordens para organizar as milícias e ordenanças, à porta de uma igreja, onde se encontra presente a imagem do padre procurando também apelar aos seus paroquianos a revolta contra os franceses.

Em primeiro plano, surgem os diversos elementos do povo, representando as diversas classes sociais pelos chapéus utilizados, sobressaindo uma figura que nos parece observar enquanto outra, no canto direito, dirige o nosso olhar para o centro da figura e para o General Gomes de Sepúlveda.
É uma imagem que procura transportar o observar para o local, com uma perfeita dimensão de perspectiva, como se estivéssemos presentes naquela ocasião.

Com esta obra, procuraremos também dar a conhecer a arte que se encontra disponível nos edifícios dos tribunais e que, infelizmente, tende a ficar cada vez mais esquecida nas soluções arquitectónicas dos novos Palácios da Justiça.

Sem comentários: