quarta-feira, 12 de novembro de 2008

THE FIGHTING TEMERAIRE (JOSEPH TURNER)


“Ele pinta com vapor colorido”
Constable, a propósito de Joseph Turner




No dia 21 de Outubro de 1805, ao largo do Cabo de Trafalgar, na costa atlântica espanhola e ao sul de Cádiz, ocorreu uma batalha naval entre uma esquadra inglesa de vinte e sete navios, comandada pelo Almirante Lord Nelson, e uma esquadra franco-espanhola de trinta e três navios, comandada pelo Almirante Villeneuve.

Conhecida pela Batalha de Trafalgar e culminando com a vitória dos navios ingleses, numa situação de inferioridade numérica face aos navios franceses e espanhóis, imortalizou o comandante inglês Lord Horatio Nelson que, no entanto, viria a falecer nessa batalha em consequência de um disparo francês.

O “Fighting Temeraire” foi um dos navios ingleses que participou nessa batalha, cuja importância estratégica foi muito importante na guerra que opôs Napoleão Bonaparte ao rei inglês e impediu a invasão das Ilhas Britânicas pelas tropas francesas.

O “Fighting Temeraire” era um navio dotado de noventa e oito peças de fogo e foi comandado por Sir Eliab Harvey na Batalha de Trafalgar, onde desempenhou um papel importante pelo seu imenso poder de fogo e pelo terror que incutiu junto dos navios franceses e espanhóis com que combateu, causando um número considerável de baixas em virtude da enorme perícia dos seus artilheiros.

Contudo, o quadro de Joseph Mallord William Turner, pintado em 1839, retrata o momento em que este é rebocado em 6 de Setembro de 1838 pelo Rio Tamisa para ser desmantelado na zona leste de Londres.

Joseph Turner passava grande parte da sua vida junto ao Rio Tamisa e executou muitas obras envolvendo cenas com embarcações e o tema da água, utilizando aguarela e óleos mas esta é considerada uma das mais importantes, merecendo lugar de destaque na National Gallery, em Londres (
http://www.nationalgallery.org.uk).

O quadro retrata um pôr-do-sol glorioso sobre o Rio Tamisa, no qual uma pequena embarcação a vapor de cores escuras reboca um pálido e algo fantasmagórico veleiro, agora desprovido das suas velas.

A composição da pintura é algo incomum na medida em que o objecto mais significativo, o velho navio de guerra, encontra-se posicionado na esquerda, onde se ergue imponente enquanto que a embarcação que o transporta, de cor escura, surge como o elemento da modernidade.

É, de certa forma, a imagem característica do elemento imponente e majestoso (o navio veleiro) que é transportado para o seu final por um outro elemento desprovido de graciosidade (o rebocador a vapor), numa alegoria sobre a perenidade das coisas grandiosas face ao evoluir dos tempos.

Com efeito, a maior modificação na vida de Turner, considerado o mais famoso dos paisagistas do movimento romântico, consistiu justamente no declínio dos veleiros de casco de madeira à medida que eram ultrapassados pelos vapores de casco de ferro, representando a Revolução Industrial, modificações política e social que o apaixonava, a par da emoção das irresistíveis forças naturais, a delicada e deliciosa doçura ambiental e a magestosa magnificência da luz do sol.

É provável que o pintor olhasse com suspeição para uma modernidade que tendia a perverter a vida dos homens, tornando-os cada vez mais dependente das máquinas, ressaltando o dramatismo da relação entre diversas imagens captadas a partir da observação da natureza.

Em 2005, uma votação realizada pela cadeia de telecomunicações BBC concluiu que esta obra de Joseph Turner era considerada a pintura favorita dos britânicos, o que não foi surpresa na medida em que coincidiu com o 200.º aniversário da Batalha de Trafalgar, considerado um dos momentos mais importantes da História da Grã-Bretanha.

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